12 dezembro 2009

Dança Liturgica

I - Definição:
O vocábulo “Dança” é uma das possíveis traduções da palavra grega “Paizo” e seus correlatos, bem como da palavra “Shireh” da língua hebraica. São elas comumente traduzidas por: agir como criança; dançar; gesticular; zombar; imitar.
É relacionada com o substantivo “Paidiá”, trazendo sempre a idéia de “jogos eróticos”. Paizo, tal como foi usada pelos gregos, muito comumente denota este verbo: falta de seriedade com alguma coisa em termos de atitude ou conduta. Significa também: saga levianamente tratada ou inventada; gesticular, zombar; ridicularizar; lascívia; libertinagem; licenciosidade; tolice e estupidez.

II - Ensino do Antigo Testamento

No contexto do Antigo Testamento e da Septuaginta, a brincadeira encontra expressão na natureza religiosa e cúltica dos jogos e danças no mundo oriental primitivo e antigo. Os deuses eram venerados por meio de jogos e danças. No culto do mundo ao redor do Antigo Testamento e do Novo Testamento, encontramos muitos jogos e danças como meio de expressar a piedade. Encontramos também no Antigo Testamento danças por ocasião das celebrações de vitória (Êx 15:20 – Jz 11:34).
Duas razões juntas, para a manifestação pela dança: a primeira, a demonstração de alegria pela vitória alcançada; a segunda, uma tremenda zombaria pelo inimigo derrotado. Danças como expressão de escárnio era algo que ofendia os brios do inimigo.

Estas celebrações são encontradas especialmente nos contextos de guerra, como por exemplo: 1Cr 13:8; 1Cr 15:25 e 2Sm 6:14.
O dicionário de Kithel, (dicionário teológico) a manifestação “mais orgiástica foi a dança diante da arca, relatada em 2Sm 6 6-16”, também num contexto de vitória de guerra. Por ocasião das festas da colheita, havia manifestações de danças, como registra Jz 21:21. Estas “manifestações eram sempre de uma dança harmonicamente desenvolvida por um grupo, a qual narrava uma história.

Eram manifestações legitimas do folclore. Há que se fazer uma distinção entre dança como expressão artística e, o requebro, sem arte, que tem como intenção carnal, dar evidência às curvas do corpo e destaque ás suas partes eróticas.
Nos salmos cúlticos (Sl 26:6 – 42:2 – 149:3 – 150:4) aparece a palavra Shireh. Estes contextos nos fazem lembrar as procissões promovidas pelo povo, rumo ao templo. No templo, o culto era o mais impeditivo possível. Os que entravam no átrio eram somente os sacerdotes, dentre esses somente o Sumo-Sacerdote adentrava ao santo dos santos. Do auditório não se ouvia nenhum som de louvor. Os cantores, ministros do canto entoavam os louvores (eles eram também sacerdotes). Ao povo em geral não era dado o direito de pisar o átrio. Os homens tinham o seu espaço, as mulheres outro mais atrás, os gentios atrás do muro. (Jesus revela sua indignação no templo, pois, o lugar dos gentios estava ocupado pelos vendedores. Jesus afirma, então que aquela casa será chamada casa de oração para todos os povos). Sendo assim, se o povo não participava da cerimônia propriamente, as pessoas encontravam um modo de expressão, e este foi no caminhar para o templo. Ajuntando a multidão, engrossando a procissão, cantavam os salmos. Os salmos cúlticos se reportam a isso, e a palavra “andarei”, “passava eu com a multidão do povo”, “com adufes e harpa”, “com adufes e danças”. Somente no Salmo 150 :4 , em algumas versões, a palavra “Shireh” é traduzida por dança.

Nas passagens escatológicas encontramos as seguintes traduções para a mesma palavra: Jeremias 31.4 “dança”, 30:19 “júbilo”, e Zacarias 8:5 “brincarão”.

III - Ensino do Novo Testamento

No Novo Testamento a palavra “Paizo” ocorre somente em 1Coríntios 10:7, fazendo citação do Antigo Testamento em Êxodo 32:6. É o repudiar de todo o culto pagão. Aqui está relacionado com a idolatria. O texto de Êxodo se refere a uma dança cúltica. Como em Gênesis 26:8; 39: 14-17, a palavra que ali aparece tem um sentido erótico. Assim pode ela denotar, tanto, idolatria, como licenciosidade cúltica: frequentemente com ela associada. Se a palavra “Paizo” é encontrada uma única vez, sua correlata “empaizo” é encontrada mais vezes. Seu significados são: jogar, dançar ao redor, caçoar, ridicularizar, iludir, defraudar. Esta palavra pertence ao grupo das usadas para depreciação ou baixa estima dos outros, em palavras, atitudes e gestos, insulto, escárnio, ridicularizar, levantar o nariz, balançar cabeça, bater as mãos como sinal de insulto ou escárnio, fazer brincadeiras. Deriva de arrogância, mostrar superioridade, hostilidade e aversão (Gn 19:14; Is 28:7 e seguintes).
Todas as outras passagens referem-se a Jesus Cristo. Na predição de sua paixão a encontramos em Mateus 20:19; Marcos 10:34; e Lucas 18:32. Ali, esta palavra é sempre traduzida por “escárnecer”. Também na história de sua paixão, cumprindo suas próprias predições - Marcos 15: 16-20, e Mateus 27:27-31.

O ato dos soldados colocando uma coroa de espinhos, um manto de púrpura, saudando-o, golpeando-o com um caniço, cuspindo e curvando-se diante dele, constitui o escárnio. O texto de João 19:1-3, usa esta palavra para descrever o incidente como um todo. É o espetáculo.

Mateus 26: 67,68, Marcos 14:65 e Lucas 22:63-65 têm sua contrapartida em Jeremias 51:18, pois os ídolos são objetos de escárnio “obra ridícula”. Assim tratavam a Cristo, representando um macabro bailado ao seu redor. Este Jesus que arroga ser Deus, não é outra coisa nesta sanha diabólica, senão “obra ridícula”. É o inferno que se levanta contra o ungido de Deus. Cristo em sua agonia é a ridícula personagem da coreografia satânica.

Conclusão:

Conclui-se que não há uma referência sequer que no culto do Novo Testamento tenha havido manifestação da dança cúltica. Nem mesmo na Igreja dos pais Apostólicos, e nem ainda na Reforma Protestante do século XVI.

A Dança era um costume pagão e procurou-se na Igreja apostólica evitar qualquer associação. E mais importante que tudo, o culto no Novo Testamento não permitia a manifestação da “dança sagrada” pelo fato de que toda dança, meneio de corpos, requebros, fazia lembrar o escárnio de Cristo. O dicionário Teológico do Novo Testamento de Kithel afirma: “Seja o fato dos soldados aqui estarem observando um costume(religioso) específico, ou seguindo práticas do sacrifício persa, por exemplo, ou estarem simplesmente expondo o suposto rei dos Judeus ao ridículo, é muito difícil ter qualquer certeza. Contudo, é certo que este escárnio se dava num contexto de dança e drama.

Pb. Herlon Charles
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