25 junho 2008

Os Partidos Judaicos e Povos no Novo Testamento

No judaísmo havia os partidos judaicos que se destacavam muito e aparecem nos relatos dos evangelhos. Alguns eram políticos, outros religiosos e outros se tornaram um, porque estavam fora da crença dos demais.

Eles são:


Os Fariseus (Farisaiwn)

Por mais que nos desagradem as características dos fariseus como apresentados nos evangelhos, não podemos deixar de sentir que coletivamente tratava-se de uma seita poderosa e extraordinária.
Este nome deriva de Parash que significa separar. Tiveram origem pouco depois da revolta dos Macabeus. Eram os separatistas ou os puritanos do judaísmo que se separavam das más associações e procuravam prestar obediência completa a todos os preceitos da lei oral e escrita. Além disso separavam-se dos gentios e dos demais que não eram judeus.
Era a mais numerosa seita religiosa e a de maior influência. Sua maior parte pertencia à classe média leiga e formava a coluna mestra do judaísmo.
Para eles qualquer um que não praticasse o judaísmo era um pecador. Sua teologia era baseada no judaísmo e ensinava a ressurreição no fim dos tempos (At 23.8), depois os homens deviam ser punidos ou recompensados no além.
Quando eram questionados sobre algumas coisas, utilizavam o método alegórico de interpretação para fugir. Acreditavam em anjos, espíritos e na imortalidade da alma. Praticavam a oração, o jejum com seus rituais e entregavam o dízimo (Mt 23.23; Lc 11.42). Observavam muito a lei rabínica, mosaica e o Sábado (Mt 12.2). Cultivavam uma esperança messiânica através de uma libertação divina.
Apesar dos seus padrões morais e espirituais tenderem muito para a justiça própria e, conseqüentemente para a hipocrisia, eram elevados para a época.
Tornaram-se os mentores políticos de Israel e controlavam a sinagoga. Os judeus os admiravam como perfeitos modelos de virtude. Para os fariseus a Lei Oral suplantou a Escrita.

Os Zelotes (znlwthj)

Faziam parte do grupo anti-revoltoso romano. Era um grupo sacerdotal que se inspirava no Templo e esperava um próximo fim escatológico. Achava que tudo que era ilegítimo no Templo era o ponto necessário para realizar o reino de Deus.
Tinha sua sede na Galiléia e seu nome significava zeloso, fervoroso ou aderente, dando a idéia de arder por alguma coisa. Pertencia à extrema esquerda dos fariseus e queria a todo custo a autonomia e a independência da nação.
Os zelotes representavam o partido nacionalista judeu (fanáticos) e defendiam a violência como meio de se libertarem do domínio romano. Às vezes eram confundidos com os sicários porque também andavam armados.
Recusavam a pagar taxas à Roma, consideravam a lealdade a César um pecado e foram iniciadores de diversas revoltas. Por isso são considerados os culpados pela destruição de Jerusalém em 70 d.C. Eram tão radicais que mais tarde se tornaram marginais sem lei.
Simão era Zelote (Mt 10.4; Lc 6.15; At 1.13)


Os Sicários (sikarioj)

Este nome significa assassino. Os sicários eram de uma fanática facção política dos judeus que assassinava seus adversários. Talvez fossem de um ramo extremista dos zelotes ou um grupo separado eventualmente que se fundiu com o movimento deles. Opuseram-se à resistência no 1º século.

Os Essênios

Eram da extrema direita dos fariseus e eram os mais conservadores entre os fariseus porque enfatizavam a observação minuciosa da lei. Porém eram um menor grupo e tiveram início entre os hasidim. Uns viviam em comunidades monásticas e outros tinham o voto do celibato, mas ambos não iam ao Templo por causa do sacerdócio corrupto.
Apesar de Plínio mencionar que apenas havia um assentamento essênio na Judéia, Filo e Josefo afirmam que o grupo reunia mais de 4 mil integrantes espalhados nela.
O vocábulo essênio vem do grego e significa santo e por isso usavam vestes brancas como símbolo de pureza pessoal. Segundo a Revista Galileu, as palavras gregas utilizadas para designar este nome podem ser traduzidas como aqueles que curam. Vermes traça um paralelo com a palavra terapeuta, título dado a uma sociedade ascética egípcio-judaica parecida com os essênios.
Eles se consideravam o remanescente vivo dos eleitos nos últimos dias. Esperavam diversos personagens escatológicos: um grande profeta, um messias político-militar, um messias sacerdotal e ainda, se preparavam para uma guerra de 40 anos que culminaria no reinado messiânico.
Para participar dessa fraternidade era necessário submeter-se aos regulamentos do grupo e às suas cerimônias de iniciações. Como não se casavam, mantinham as suas gerações através de adoções ou pela recepção de neófitos.
Tinham em comum suas propriedades pois eram contrários à propriedade privada, se sustentavam através dos trabalhos manuais e comiam alimentos simples. Eram sábios restritos em conduta, não davam lugar à ira, não julgavam e observavam o Sábado com muito rigor. Ensinavam que a alma era intangível e imortal, encerrada num corpo perecível. Na morte, acreditavam que o bom passava para uma região de sol brilhante e de frescas brisas, enquanto que os réprobos (condenado, danado, mau, perverso, malvado) eram relegados para um lugar escuro e tempestuoso de tormento contínuo. Qualquer desvio de uma das regras era o necessário para excluir alguém da comunidade.
Apesar de ser uma seita considerada morta, algumas pessoas trataram de ressuscita-la. No Brasil há a Igreja Essênia de Jesus Cristo que se propõe a seguir hoje a antiga doutrina. Esta tem como base o Evangelho Essênio da Paz e o Evangelho dos Doze Santos que foram encontrados respectivamente no Vaticano em 1923 e no Tibete no século XIX.
Estes essênios modernos dão ênfase a aspectos que, segundo o psicólogo Fernando Travi, representam a essência da doutrina: o respeito à natureza, o vegetarianismo estrito e a purificação como o caminho para a cura de problemas físicos e espirituais. Ele adverte que a preparação de um essênio é longa, árdua e exige muita disciplina. Não pára nem quando o candidato está dormindo, pois acredita que ao deitar á noite deve-se estar preparado para continuar o aprendizado, recebendo informações através do inconsciente.
Os Saduceus (saddoukaioj)
Também surgiram na época dos Macabeus. Eram em menor número que os fariseus, mas tinham maior influência política do que eles porque controlavam o sacerdócio, o sinédrio e o Templo. Por isso eram um importante partido religioso que surgiu no período do NT embora não fossem bem organizados.
Sofriam influência da helenização porque continham contato com os dominadores estrangeiros. Eram fiéis à lei mosaica e não aceitavam a tradição oral. Entre eles havia homens ricos e de posição (At 4.1; 5.17).
Conforme a tradição, seu nome deriva dos filhos de Zadoque que foi sumo sacerdote nos dias do rei Davi e Salomão, conforme consta em II Samuel 8.17. Constituíam o grupo dominante na direção da vida civil do judaísmo, sob o domínio da dinastia herodiana.
A sua doutrina é apresentada em Atos 23.8: negavam o dualismo dos círculos apocalípticos (bons e maus), qualquer tipo de predestinação relacionada às ações humanas, mas aceitavam a vontade livre; não criam na existência de anjos, demônios e também negavam o sobrenatural, entre eles os milagres. Na verdade eram totalmente materialistas. Entretanto criam na ressurreição dos círculos apocalípticos da época, sobre castigo e condenação no Hades.
Eram sempre em favor do povo e estavam sempre do lado da maioria e de quem possuía o poder, eram aristocráticos. Tiveram poucos conflitos com Jesus, mas estes foram dramáticos (Mc 11.15-18; 12.18-27; Mt 21.23-27).

Os Zadoqueus (qAdc)


Eram da extrema direita dos saduceus e viviam sob um novo conjunto de regulamentos, o Novo Concerto. Eram missionários fervorosos e também esperavam um Mestre da Justiça, que seria o messias e chamaria Israel para o arrependimento.
Aceitavam toda palavra escrita, mas rejeitavam a tradição oral. Eram muito abnegados à vida pessoal e leais aos regulamentos da pureza levítica. Davam enorme ênfase à necessidade do arrependimento.


Herodianos

Surgiram em 6 d.C. quando Arquelau, filho de Herodes o Grande, foi deposto e Augusto César enviou Copônio, um procurador para o seu lugar.
Apesar de fazerem parte do círculo judeu não eram uma seita religiosa, mas uma pequena minoria de judeus influentes e também pertenciam à aristocracia dos Sacerdotes Saduceus e que apoiavam à dinastia de Herodes. Por isso eram chamados de antipatrióticos.
A sua causa era política e tinha como ponto principal promover o governo de Herodes. Também eram conhecidos como Saduceus de extrema esquerda e acreditavam que o messias viria desta família. (Mt 22.16; Mc 3.6; 12.13).

Os Escribas

Não eram uma seita, nem um partido político. Eram um grupo de profissionais que se dedicavam ao estudo das Escrituras. Provavelmente na época do rei Ezequias já havia escribas, que foram os guardiões, expositores e doutores da lei.
Na época de Esdras, que era escriba, eles interpretaram as Escrituras para o povo e baixaram decisões sobre os casos que lhes foram apresentados (Ed 7.6,11,21).
Tinham como trabalho: o desenvolvimento teórico da lei para incluir novos casos, o ensino gratuito aos seus discípulos e a administração prática dela nos tribunais, nos quais se assentavam como juízes ou assessores.
Na época de Jesus parece que pertenciam à seita dos fariseus, mas estes não tinham conhecimento teológico. Tinham como fonte de sustento outros negócios e Jesus se identificou muito com eles.


O povo da Terra

Era a massa do povo ordinário que permanecia desvinculada das seitas e dos partidos políticos da época entre os judeus palestinos. Eram menosprezados, principalmente pelos fariseus porque não tinham conhecimento algum da Torá e eram indiferentes à mesma.

A Diáspora ou a Dispersão

É o conjunto dos judeus que viviam em quase todas as cidades desde a Babilônia até Roma e também muitas povoações menores onde o comércio e a colonização os retiveram. Faziam parte todos os judeus que viviam fora da Palestina.
A diáspora iniciou com os cativeiros do Norte e do Sul, entre 721 a 597 a.C. Em Alexandria havia uma enorme colônia judaica que foi influenciada pelo helenismo e por isso perderam a identidade judaica e a fé em Iavé e na Torá. Mesmo assim, iam ao Templo, observavam o Sábado e mantinham o culto na sinagoga.
A diáspora estava dividida em dois grupos:
- Hebraístas ou hebreus: Paulo era um deles (Fp 3.5), nasceu em Tarso, cidade grega, tinha cidadania romana, era judeu completo não corrompido pelo paganismo (At 21.39; 22.25-29). Além da fé religiosa do judaísmo, usavam a língua hebraica ou aramaica e os costumes hebraicos (At 22.3). Seu culto centralizava-se no Templo.
- Helenistas: era um grupo maior que não largou a fé mas foram helenizados. Falavam o grego ou a língua da nação em que viviam, adotavam o estilo de veste e os costumes locais. Nos cultos havia elementos sincréticos como pinturas da mitologia pagã. Eram mais simpáticos do que os hebraístas.


As Classes Sociais

Os principais sacerdotes e rabinos formavam a classe mais alta. A maior parte da população era de fazendeiros, artesãos e negociantes. Os cobradores de impostos (publicanos) eram desprezados pelos judeus porque mantinham contato com os romanos. Havia vagas para coletas de impostos com contratos de 5 anos. Além de recolher os impostos e terem sua comissão podiam extorquir ilegalmente.
Havia muitos escravos e era comum condenar os criminosos, endividados e prisioneiros à servidão. A liberdade poderia ser adquirida através de pagamento. Outros que pagavam impostos eram os solteiros.
Os nomes não vinham com sobrenomes, mas com uma identificação das pessoas: nome de pai (Tiago, filho de Zebedeu - VIakwbon ton tou Zebedaiou); filiação política (Simão, o Zelote - Simwna ton kaloumenon Zhlwthn); ocupação (João, o Batista, que batiza - VIwannhj o baptisthj); localidade (Judas, Iscariotes, homem de Queriote - VIoudaj VIskariwthj).
Especula-se que viviam mais de 4 milhões de judeus no período do império romano, talvez 7% da população total do mundo romano da época. Alguns dizem que o número de judeus que viviam na Palestina não atingia a 700 mil, porque havia mais judeus em Alexandria, no Egito, do que em Jerusalém e mais na Síria do que na Palestina. Até mesmo dentro da Palestina o número era reduzido, pois na Galiléia e em Decápolis havia mais gentios que judeus.

Os Escravos

Para os judeus o homem rico era excepcionalmente abençoado por Iavé, mas fora do judaísmo havia os que cresciam financeiramente aproveitando o empobrecimento da classe média por causa das guerras. Com isto a classe média que estava se tornando escrava e passou a apoiar qualquer líder que prometesse melhorar a vida social, porque a plebe, que fazia parte da sociedade pobre, era numerosa e não tinha nem o que vestir.
Apesar de serem a maioria da população, não tinham poder. Sua classe crescia muito porque não surgia apenas por causa das guerras, mas também por meio de dívidas. Por isso nem todos os escravos eram ignorantes, a maioria tinha estudo e profissão. Um exemplo é Epícteto, que era um célebre filósofo estóico (designação comum às doutrinas dos filósofos gregos Zenão de Cício (340-264) e seus seguidores Cleanto (séc. III a.C.), Crisipo (280-208) e os romanos Epicteto (55-135) e Marco Aurélio (121-180), caracterizadas sobretudo pela consideração do problema moral, constituindo a ataraxia o ideal do sábio) e era escravo. Muitos trabalhavam na agricultura, outros como tutores, criados, copistas e etc.
Para conseguirem favores de seus senhores faziam de tudo, inclusive adulações. Seus filhos ficavam sob a custódia de seus senhores e com isso aprendiam muitas coisas ruins, porém recebiam cultura.
Um escravo fugitivo era marcado com um F na testa à ferro quente e se houvesse roubado algo era condenado à morte. Onésimo estava passando por isto conforme consta em Filemom. Alguns eram agraciados pelos seus senhores e como outros recebiam a carta de alforria e desta forma voltavam a fazer parte da população.
Enfim, com a destruição do Templo de Jerusalém em 70 d.C. a adoração e os sacrifícios cessaram. Em contrapartida, os rabinos estabeleceram uma escola na cidade de Jâmnia, na costa do Mediterrâneo, onde estudavam a Torá. Isto permaneceu até que o imperador Adriano erigiu um santuário dedicado a Júpiter, um deus romano, no local onde estava o Templo e proibiu a circuncisão.
Os judeus liderados por Bar Cochba se revoltaram e o consideraram o messias (32 d.C.). Mas em 135 d.C. os romanos abafaram esta revolta, reconstruíram Jerusalém como uma cidade romana, expulsaram e proibiram os judeus de entrarem nela. Daí o estado judaico deixou de existir até o ano de 1948 quando foi reavivado.

Os Samaritanos


Samaria (!Armv) é o nome dado à cidade construída por Onri, para ser a capital do Reino do Norte (Israel), que foi fundada em 920 a.C. e estava situada a 11 km a noroeste de Siquém. Foi comprada por Onri de Semer (I Rs 16.24-32) e recebeu este nome em homenagem a Semer (rmv). Existe outra teoria que diz que este nome foi escolhido porque significa posto de vigia.
Era uma cidade bem situada estrategicamente e tinha grande crescimento. Ficava sobre uma elevação à 90m de altura e isto a gloriava das demais, sem contar com a sua beleza e localização.
Foi conquistada pelos assírios em 722 a.C., povo que tinha como costume repovoar as cidades conquistadas com povos de outras também conquistadas por eles, desta forma evitava rebeliões e revoltas. Foi assim que ocorreu com Samaria, foi repovoada com outros povos. Os samaritanos passaram a ser uma população mista, tendo parte israelitas e parte de outros povos.
Há citações sobre ela em alguns livros da Bíblia que a condenam como sendo a espinha dorsal da idolatria (esta mistura explica isto), principalmente na adoração a Baal (Mq 1.5; Jr 23.13; Os 7.1; Am 4.1)
Ao ser conquistada deixou de ser capital e tornou-se província da Assíria, depois da Babilônia e mais tarde dos persas. Juntamente com a sua queda o Reino do Norte chegou ao fim.
Quando Neemias iniciou a reconstrução do Templo, os moradores de Samaria fizeram forte oposição e retardaram a construção. Após a edificação dos muros Neemias voltou para a corte, onde trabalhava e era cativo, deixando seus dois irmãos Hanani e Hananias encarregados em Jerusalém (Ne 7.2).
No ano 32 de Artaxerxes (433-432 a.C.) Neemias voltou a Jerusalém para reiniciar algumas reformas que eram necessárias. Ao chegar viu que Eliasibe havia cometido um grave erro ao formar aliança com Tobias, o amonita (povo inimigo). Desta forma o Templo estaria sempre à disposição deste povo quando viesse visitar Jerusalém (Ne 13.4-7). Por isso expulsou Tobias, acertou as irregularidades do Templo, iniciou as reformas sobre a observação do Sábado e contra o casamento com pagãos (Ne 13.15-28).
Outra irregularidade que Neemias descobriu foi o casamento do neto do sumo sacerdote Eliasibe com a filha de Sambalá, governador de Samaria. Este governador foi contra Neemias na reconstrução e também os expulsou de Jerusalém (Ne 13.28). Daí surgiu o rompimento entre os judeus e os samaritanos e esta hostilidade existia ainda na época de Jesus.
Existe uma outra teoria que é utilizada por Josefo, que toma como base um século mais tarde, já na época de Alexandre o Grande. Josefo menciona que o sacerdote expulso é Manassés e que este levou consigo uma cópia da Torá quando fugiu e passou a dirigir o culto no templo construído no Monte Gerizim.
Esta história dá uma visão religiosa para o cisma, já a citada antes dá uma versão política. Como toda história do povo de Israel está envolvida com o aspecto político e este sempre se volta para o religioso, apelando a Deus, é mais provável que tenha sido a primeira.

1 comentários:

Alcir Ribeiro disse...

Parabéns pelo comentário sobre este assunto muito importante a nivel de informaçao.

Alcir

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